terça-feira, 20 de maio de 2008

Balada para um coração aidético

Todos os malditos milhares de escamas de dragão pulsam
Sobre minha cabeça feita de vidro moído e asfalto
Narcóticos vendidos a preços infinitamente inferiores ao cigarro
Crianças urram sobre a fome infinitamente superior ao homem
Crianças urram já cheias de vicio e magoas enquanto abrem com as mãos
O caminho do útero de suas mães serpentes.

Abril e o bar esta cheio
Junho e nossos corpos estarão espalhados sobre a cor verde madrepérola
De teus olhos de tuas coxas de teu cabelo de mulher viva
De mulher libidinosa de teu ódio impresso em batom carmim
Eu não quero ser uma boa pessoa
Se eu fosse tua cor seria pálida e não viva
Teu gosto seria ferida e não libélula em pedaços no céu de minha boca rosa

Eu não posso querer ser uma pessoa melhor
Querer a infringir meu corpo a vida da pureza monástica
Do amor recôndito e puro entre as mãos de Maria
Seria jogar me entre as giletes impuras da insatisfação casual de domingo,
Seria privar-me de desejar teus lábios e teus vícios
Seria impedir-me de adentrar dentro de teu espinho em plena augusta
& nem todos os anjos poderiam perdoar-me
Por não gravar-te a ferro em minhas narinas já cheias de sangue e cocaína
Em pleno metrô fechado
Enquanto a vida de todos os nauseabundos de carne
Prossegue.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Um soneto sobre amor e outras piadas sem graça.

Na busca incessante de nossos corpos transeuntes
Nus e em farrapos de migalhas
Carregando cestos de pães velhos e podres
Pela Rússia caída de Dostoievski

Enquanto todos os mortos de fome
Distribuem os restos do Czar, eu e você podemos.
Sair e comprar morangos e cerejas
Nos quais sentiremos o gosto do sexo um do outro.

Na contraluz de seus sentidos já dormentes
Cravarei meus dentes em sua cintura
Porque hoje, eu e você dançaremos sobre os restos do Czar.

Eu e você,
Sobre os restos deformados
De nossos próprios mortos.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Chovia sobre mim sobre todos nós sobre tudo e chovia e choveria mais com o passar das estações dos anos das cores se desbotando sobre todos os trapos amontoados que chamávamos de casa e se alguém ou algo me perguntasse exatamente agora onde é o fim do mundo talvez eu disse-se algo sobre como a fé pegou suas contas e resolveu morar numa ilha deserta,

E chovia sobre minha camiseta manchada de ódio e pó e escombros
De todos aqueles prédios que nunca mais tornariam a ser os mesmos
E a maldita massa humana continua a monopolizar o direito a oxigênio
e todos os malditos corações suburbanos gritam com seus livros de cabeceira
todos sobre auto-ajuda mas eu não quero ser ajudado
eu não quero ajudar ninguém
eu não vim para salvar o mundo
o aquecimento global acontece dentro do meu crânio esfarelado acontece há cada minuto dentro de tuas suaves coxas e enquanto duas garotas se beijam com o beijo da serpente eu posso compreender suavemente o roxo tom de nada impresso em todos aqueles casacos anunciando o fim das liquidações de nossas almas e não por favor não me deixe pensar não agora não quando eu posso quase te tocar em meio a o meu delírio de teclas musicas tocadas por um louco e seu filho cristo não eu não quero começar a pensar agora não enquanto seus olhos se expandem sobre minha carne e me ignoram em sua confortável vida e eu aqui bebendo um vinho ruim o suficiente para afogar a alma de todos os veleiros sem destino desbotado de São Paulo eu não quero pensar pois pensar seria....te ver anunciando o fim das estrelas suaves no firmamento de meu amor em chamas.